segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O Oscar e a Glória

Glória: gafes de matar...
Constrangedora. Apenas isso. Assim foi a participação da atriz Glória Pires na festa do Oscar deste domingo.

Pior que o “não assisti”, “não tenho opinião” ou “curti”, foi quando ela tentou não demonstrar desconhecimento com observações do tipo “maravilhoso”, “acessível”, “bacana”, “achei mais ou menos”.

Parecia que a atriz interpretava o papel de alguém com depressão obrigada a ir para o trabalho e precisa fingir que está tudo bem.

A apresentadora Maria Beltrão - de forma bastante elegante, aliás - de vez em quando tentava suavizar o mal-estar do programa, mas não se conteve quando Glória Pires informou que seu filme preferido era um que simplesmente não estava concorrendo.     

Eu nunca havia entendido por que uma mulher a princípio tão interessante fosse casar logo com o Fábio Junior. Agora captei...

É curioso também como uma pessoa pública, acostumada a críticas (normalmente positivas), tenha assimilado tão mal a repercussão do caso. O vídeo  postado no dia seguinte ao vexame (ver https://www.facebook.com/GloriaPires/?fref=nf), com um longo e desnecessário depoimento em sua página no facebook tentando explicar o inexplicável e fingindo não estar incomodada com os memes, apenas piorou tudo.

Melhor ter saído à francesa.       

Em tempo: Glória Pires recebeu um cachê de R$ 10 mil e um DVD com todos os filmes do evento. Faltou, portanto, um mínimo de profissionalismo e respeito ao público e ao patrão. 

domingo, 5 de janeiro de 2014

Álbum de Família

Meryl Streep está tirando toda a graça das cerimônias de premiação do cinema norte-americano. A veterana atriz, de 64 anos, está cada vez melhor, e “rouba” a cena mais uma vez no drama Álbum de Família (August: Osage County, 2013).

Ao assistir à película do diretor John Wells, é automática a associação com outros filmes que têm por pano de fundo dramas familiares, em especial o homônimo brasileiro da década de 80 e o dinamarquês Festa de Família.

Adaptação da peça do genial Nelson Rodrigues, o Álbum de Família nacional, de 1981, tem Dina Sfat e Lucélia Santos no elenco, e é uma sequência de tragédias entre pais, filhos e irmãos.

Já o escandinavo Festa de Família (Festen, 1998) é o mais pesado e, disparadamente, o melhor dos três. Representante maior do Dogma 95, um movimento idealizado por quatro diretores – Thomas Vinterberg, diretor de Festen, é um deles – que determinava regras rígidas para um cinema menos artificial, a trama gira em torno da festa de aniversário do patriarca, que serve de cenário para que todos “discutam a relação” e tragam à tona os pecados da família.

Em comum nos três filmes: ninguém é feliz!

Dramas familiares costumam gerar excelentes roteiros, e não por acaso. Os problemas entre consanguíneos geralmente são mais complexos e costumam perdurar por anos, o que atribui uma carga dramática sem similar em outros tipos de relação.

Voltando à produção mais recente, o elenco é o grande destaque do filme norte-americano. Além de Meryl Streep (Violet) e Júlia Roberts (Barbara) – cujas personagens se alternam no papel de mãe e filha – Chris Cooper (“Big” Charles) se sobressai. A destoar, a chatíssima Juliette Lewis (que parece sempre interpretar ela mesma) no papel de Karen.

O final mais coerente de Álbum de Família seria naturalmente o abraço de Violet na criada índia, a quem sempre rebaixou, mas a última pessoa que lhe restou. No entanto, o cinema americano tem estranhos clichês, que determinam, por exemplo, que a última cena seja de uma tomada aberta. Assim, o filme termina com uma desnecessária divagação de Julia Roberts na estrada.


Álbum de Família não chega a ser uma super-produção, mas vale pelas atuações convincentes nas duas horas de mágoas e lavagem de roupa suja dos parentes. Pra quem gosta de filmes otimistas e com finais felizes, melhor ficar em casa.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Do Ceará para o Mundo

Aula de artes marciais a caminho de Pacatuba 
Muita gente generaliza o nordeste como uma coisa só. Mas quem é de lá sabe que o Ceará é tão diferente de Pernambuco como do Rio Grande do Sul.

Nem melhor nem pior. Apenas diferente. Recife, por exemplo, tem um certo refinamento,  herança da colonização européia.  Fortaleza é uma metrópole que cresceu predominantemente do êxodo rural, do povo sofrido que fugia do flagelo da seca. E essa característica deu ao cearense um jogo de cintura que está relacionado à sua condição de grande celeiro de humoristas do Brasil.
Elenco de Cine Holliúdy (Foto: Divulgação)

Estatisticamente, cerca de 100% do cearense se considera humorista.
 
Cine Holliúdy traz o que o humor do Ceará tem de mais autêntico, escrachado, pesado, pouco elaborado e carregado com o “dialeto cearensês”, que levou o roteirista e diretor Halder Gomes a um pioneirismo: seu filme é a primeira produção nacional a ter legendas em português, uma inovação que poderia ter sido melhor explorada caso não reproduzisse ipsis litteris os diálogos, optando por traduzir algumas expressões pouco familiares às demais regiões do Brasil.
 
A associação de Cine Holliúdy com Cinema Paradiso é imediata. Obviamente, o cult de Giuseppe Tornatore, da década de 80, é um filme bem mais rebuscado que a produção tupiniquim.
Edmilson Filho e Miriam Freeland 

No interior do Ceará (ou quase, já que Pacatuba fica pertinho da capital) Francisgleydisson e família resolvem fazer uma última tentativa de manter acesa a chama do cinema frente à investida da televisão, no início da década de 70. Ou seja, nada muito original.

No entanto, Cine Holliúdy fez um sucesso estrondoso no seu estado natal - assim como foi bem recebido no exterior - embora não tenha repetido a mesma performance no restante do Brasil. O filme ganhou dezenas de prêmios em festivais pelo mundo afora. Até a Globo exibiu recentemente a comédia . Tudo bem... Foi de madrugada, longe do horário nobre... Mas exibiu. 

Filme de orçamento curtíssimo, Cine Holliúdy se pagou apenas com a bilheteria de Fortaleza. A trilha sonora é uma verdadeira viagem no tempo, exaltando o brega que dominava a região numa época anterior à invasão das gigantescas bandas de forró que tomaram conta do mercado. Márcio Greick, além de emprestar suas baladas à trama, faz uma ponta como ator, interpretando o golpista que compra – e não paga – Wanderléia, a Veraneio amarela de Francisgleydisson.
A plateia de Francisgleydisson

Se Halder Gomes foi habilidoso em abordar com leveza temas como a ditadura, a corrupção e a pobreza, quando o assunto foi futebol, a paixão falou mais alto e ele não transigiu em dar tratamento igual a Fortaleza – seu time de coração – e Ceará. Um casal acompanha o clássico cearense pelo rádio durante a inauguração do cinema de Francisgleydisson. A mulher usa uma camisa do tricolor; o homem, do arqui-rival, mas a camisa alvinegra não tem escudo.
 
Apesar da ótima atuação de Edmilson Filho como Francisgleydisson, o grande tempero do filme são os personagens “periféricos”, menos estereotipados e mais soltos, com destaque para o cego Isaías, vivido pelo cantor/humorista/arquiteto Falcão.
 
Peense num filme paidégua, macho! E não venha com essa baitolagem de dizer que ele é peba! Afinal, o orçamento foi bem acochado. E não seja abestado de comparar Cine Holliúdy com essas fuleragens americanas metidas a espilicute. Esses baitingas são tudo estribado, adoram botar boneco e podem ficar aperreados e querer dar um mói de pêia em você... (*)
 
Se você entendeu direitinho esse último bloco, pode assistir a Cine Holliúdy sem legenda... Caso contrário, leia a tradução para o português, abaixo.
 
Que filme maravilhoso, meu amigo! Não devemos criticá-lo, inclusive porque seu baixo orçamento não pode ser comparado às caríssimas produções norte-americanas de baixa qualidade, disfarçadas de super-produções. Os ianques são orgulhosos, têm muito dinheiro, gostam de ostentar e podem ficar nervosos a ponto de querer  agredi-lo.


domingo, 23 de junho de 2013

Antes da Meia Noite


Uma das coisas que mais gosto quando vou ao cinema é observar a reação do público na saída da sessão. Invariavelmente – e aí reside a beleza da sétima arte – nos deparamos com percepções antagônicas.

Com Antes da Meia Noite (Before Midnight) isso fica muito evidente. Uns poucos saem bem decepcionados, mas a maioria certamente capta as sutilezas do diretor Richard Linklater, que dividiu com a dupla Ethan Hawke e Julie Delpy – exatamente os protagonistas Jesse e Celine – o roteiro do último filme da trilogia, produzida em ciclos de nove anos.

A propósito, ter visto Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr-do-Sol (2004) ajuda, claro, mas não é condição essencial para entender – e gostar – de Antes da Meia Noite.

Até o filme engrenar e focar no que interessa - a continuidade ou não da complexa e desgastada relação entre Jesse e Celine - confesso que tive vontade de levantar e sair, pois achei que Linklater havia errado a mão na continuação da franquia.

Pelo contrário. Antes da Meia Noite é mais denso, real e reflexivo que seus antecessores.  Aos menos atentos, a própria escolha da Grécia e suas seculares ruínas como pano de fundo é bastante emblemática. A contemplação do pôr-do-sol, numa cena aparentemente despretensiosa, idem. Vale a pena associá-los à problemática de Celine e Jesse e perceber o link.

O doloroso embate do casal, cujo ápice ocorre em um quarto de hotel, é motivado pela desilusão de Celine, com toques de feminismo, e pela desesperada tentativa de Jesse de dissuadi-la da separação, na linha do “apesar de tudo, nem tudo está perdido”.

Para quem já viveu algo parecido, um convite à reflexão acerca do desgaste de longas relações, onde, dependendo da perspectiva, alguns eventos podem servir para afastar ou aproximar, e muitas vezes a argumentação e o poder de convencimento podem mudar o curso dos acontecimentos.


P.S. Aos que adoram se ligar nos desafios e gafes dos continuístas, um prato cheio: acompanhar a surrada camisa jeans que Ethan/Jesse utiliza durante quase todo o filme. Uma diversão à parte.

domingo, 5 de maio de 2013

Capital do Rock


Somos tão Jovens” não é, definitivamente, uma obra-prima. Mas é é um bom filme. E para os fãs de Renato Russo e, principalmente, para quem construiu sua história de vida na Capital Federal, emociona.
Thiago Mendonça não tem o mesmo carisma do líder do Legião, mas representou de forma competente o filho de bancário que foi um dos maiores responsáveis por transformar Brasília na capital do rock. Thiago já interpretara outro músico no cinema – Luciano, em Os Dois Filhos de Francisco.
O filme aborda apenas uma pequena fase da vida de Renato, em seus tempos de punk rock no Aborto Elétrico – seus integrantes dariam origem tanto ao Legião Urbana quanto ao Capital Inicial - no final dos anos 1970, quando a turma da “Colina”, o conjunto habitacional da UnB, agitava as Asas Sul e Norte com festas ao ar livre e muito rock pauleira. Na sequência, Renato faz uma pequena incursão como “trovador solitário” e finalmente cria o Legião Urbana, com Marcelo Bonfá e Dado Villa Lobos.
Mas a explosão da banda no cenário nacional e a doença de Renato – que culminou com sua morte em 1996, por complicações decorrentes da AIDS - não são contempladas no filme. Quem sabe fiquem para Somos tão Jovens II...
Os melhores momentos do filme são, claro, as músicas. A primeira balada (Eu Sei), o primeiro show do Legião (em Patos de Minas) e, principalmente, um show solo de Renato no Plano Piloto, ao ar livre, interpretando Ainda é Cedo, num momento de homenagem e reconciliação com a amiga Ana Cláudia (interpretada por Laila Zaid).
Para os brasilienses e amantes da música, imperdível!  

domingo, 6 de janeiro de 2013

Fora de foco



Só o convite de pessoas muito queridas para nos levar ao cinema para ver De Pernas pro Ar 2.  A comédia até surpreende com alguns poucos momentos de humor genuíno, mas tenta – sem muito sucesso, diga-se – reproduzir o modelo dos despretensiosos filmes de humor americanos.


Ingrid Guimarães (Alice) é quem segura o ritmo. Bruno Garcia – o marido de Alice – um ator talhado para esse tipo de filme, até poderia dar uma ajudinha, mas, inexplicavelmente, faz um personagem sisudo, e em nenhum momento tem sua verve humorística explorada. 

Maria Paula está intragável. Como sempre.


A melhor sequência do filme – que poderia se estender bem mais – é a internação de Alice em um SPA, quando surgem vários personagens interessantes e bem engraçados, caso de Mano Love, uma referência óbvia – e de certa forma injusta, pois há outros jogadores bem mais “mal-comportados” no futebol atual – ao centroavante rubronegro Vágner Love, interpretado pelo ótimo Luiz Miranda.  


Um dos problemas do roteiro é a falta de coerência entre a proposta de um entretenimento leve com as situações de estresse provocadas pela personagem Alice, que impedem o espectador de relaxar. É o que ocorre, por exemplo, na manjadíssima cena em que a empresária marca dois almoços no mesmo horário e no mesmo restaurante com dois grupos distintos, sem que um saiba da presença do outro. Como era de se esperar, isso gera boas gargalhadas, mas a farsa acaba descoberta, claro.`


Destaque para Rodrigo Santanna como o falsificado garçom de Governador Valadares.



O problema de De Pernas pro Ar 2 é que ficou muito trabalho para Ingrid/Alice, pois, do quarteto principal da trama, ninguém a ajudou nas esquetes de humor do filme.

Certamente, o resultado teria sido melhor se tivesse seguido na linha de uma “comédia de loucos”, explorando o excelente time do spa, capitaneado pelos divertidos Tatá Werneck e Luiz Miranda.


A sensação que fica é que a produção pensou: bom, já que gastamos uma grana trazendo todo mundo para Nova Iorque, temos que ambientar a maior parte da película aqui. Como faltou uma ou outra cena para finalizar a edição, chegaram até a apelar para a antiqüíssima técnica do chroma-key, algo que utilizei em Fortaleza ainda na década de 1980 e que nem imaginava ainda ser utilizada na TV, quanto mais no cinema. Os recortes ficaram bem evidentes.


O merchandising também corre solto e passa um pouco das medidas.

No fim das contas, dá pra rir um pouquinho e não sair totalmente decepcionado, principalmente se você não entrar no cinema com grandes expectativas...

sábado, 29 de dezembro de 2012

A Arca de Pi, ou O menino e o Mar



Se for para eleger um destaque em As Aventuras de Pi, de Ang Lee, fico, sem dúvida, com a belíssima fotografia. Difícil escolher a cena mais marcante. 

O naufrágio – o evento que provoca a grande virada da história – é de dar inveja aos criadores de Titanic.

No título do post, fiz uma brincadeira com o grande livro de Hemingway, O Velho e o Mar, pois a luta do adolescente Pi contra Richard Parker – o faminto tigre de bengala – lembra,  de certa forma, a lenta batalha do velho pescador contra o imenso marlin, embora com objetivos diferentes: Pi tenta, a todo custo, preservar a vida de ambos, a dele e a do felino.   

A luta do hindu, também, é bem mais extensa: são mais de duzentos dias de luta pela sobrevivência. A maior parte do filme se passa no mar, mas isso não o torna cansativo. 

Apesar do caráter alternativo, duvido que essa grande produção não brigue por várias estatuetas no Oscar 2013.

O diretor Ang Lee criou, num velho aeroporto da Ásia, um tanque gigantesco de 70x25 metros, com mais de dois milhões de litros de água. Motores de 150 cv geravam ondas de quase dois metros de altura.

O elenco é quase desconhecido. O nome de mais peso é do desnecessário Dépardieu.

 Uma ou outra cena foi feita com animais de verdade. Mas a maior parte, como era de se esperar, utilizou recursos de computação gráfica (CGI). A questão é que os efeitos de animação foto-realística dos animais são tão convincentes que chegamos até a imaginar como foram encontrar tigres, orangotangos, zebras e hienas tão bem treinados. Nada que lembre os movimentos pasteurizados de Final Fantasy. O 3D também foi usado na medida certa.

A película foi baseada no livro Life of Pi, de Yan Martel. Não nos esqueçamos, no entanto, que o escritor canadense confessou ter se baseado “de certa forma”, no livro Max e os Felinos, do gaúcho Moacyr Scliar, falecido em 2011.

Bem, na movimentada história, temos ainda ilhas carnívoras, divagações religiosas, bananas e multidões de suricatos.

Um baita filme!