domingo, 5 de janeiro de 2014

Álbum de Família

Meryl Streep está tirando toda a graça das cerimônias de premiação do cinema norte-americano. A veterana atriz, de 64 anos, está cada vez melhor, e “rouba” a cena mais uma vez no drama Álbum de Família (August: Osage County, 2013).

Ao assistir à película do diretor John Wells, é automática a associação com outros filmes que têm por pano de fundo dramas familiares, em especial o homônimo brasileiro da década de 80 e o dinamarquês Festa de Família.

Adaptação da peça do genial Nelson Rodrigues, o Álbum de Família nacional, de 1981, tem Dina Sfat e Lucélia Santos no elenco, e é uma sequência de tragédias entre pais, filhos e irmãos.

Já o escandinavo Festa de Família (Festen, 1998) é o mais pesado e, disparadamente, o melhor dos três. Representante maior do Dogma 95, um movimento idealizado por quatro diretores – Thomas Vinterberg, diretor de Festen, é um deles – que determinava regras rígidas para um cinema menos artificial, a trama gira em torno da festa de aniversário do patriarca, que serve de cenário para que todos “discutam a relação” e tragam à tona os pecados da família.

Em comum nos três filmes: ninguém é feliz!

Dramas familiares costumam gerar excelentes roteiros, e não por acaso. Os problemas entre consanguíneos geralmente são mais complexos e costumam perdurar por anos, o que atribui uma carga dramática sem similar em outros tipos de relação.

Voltando à produção mais recente, o elenco é o grande destaque do filme norte-americano. Além de Meryl Streep (Violet) e Júlia Roberts (Barbara) – cujas personagens se alternam no papel de mãe e filha – Chris Cooper (“Big” Charles) se sobressai. A destoar, a chatíssima Juliette Lewis (que parece sempre interpretar ela mesma) no papel de Karen.

O final mais coerente de Álbum de Família seria naturalmente o abraço de Violet na criada índia, a quem sempre rebaixou, mas a última pessoa que lhe restou. No entanto, o cinema americano tem estranhos clichês, que determinam, por exemplo, que a última cena seja de uma tomada aberta. Assim, o filme termina com uma desnecessária divagação de Julia Roberts na estrada.


Álbum de Família não chega a ser uma super-produção, mas vale pelas atuações convincentes nas duas horas de mágoas e lavagem de roupa suja dos parentes. Pra quem gosta de filmes otimistas e com finais felizes, melhor ficar em casa.