O incêndio
que consumiu três salas de cinema na Academia de Tênis decretou o encerramento
das atividades daquele importante espaço cultural de Brasília. Já faz mais de
um ano que os cinéfilos da cidade estão órfãos de produções independentes, ou
pelo menos fora do circuito dos
shoppings.
Se comparada com algumas metrópoles do país, Brasília ainda tem um número
razoável de salas. Apesar disso, a diversidade é baixa e procurar um bom filme
alternativo não tem sido uma tarefa fácil.
Nesse
contexto, a mostra CCBB Em Cartaz,
entre os dias 11 e 30 de outubro no Cine Brasília, é um presente para os
candangos. São quinze filmes inéditos na Capital. Surpreendentemente, as
primeiras sessões não têm lotado o antigo e confortável cinema do eixinho
sul... e olha que a entrada é franca.
Aproveitei o
feriado desta quarta-feira para assistir ao filme francês “Esses Amores”, de
Claude Lelouch. O septuagenário diretor faz uma espécie de revival à sua trajetória profissional num belo filme, que não foi
bem recebido por alguns críticos, talvez por conta de sua, digamos,
heterogeneidade.
Como sempre,
não gostei do título em
português. Acho a expressão sem peso. Daqui a uns quinze
dias, se alguém perguntar, já não lembro mais o nome do filme. De qualquer
forma, tenho uma birra com distribuidores, até porque, o original - Ces Amours-là – significa exatamente
isso, ou Esse Tipo de Amor, numa tradução literal. O título em inglês – What Love May Bring, ou O Que o Amor
Pode Trazer – consegue ser ainda mais piegas.
Apesar de
certa liberdade no estilo e na estética – principalmente no início e no final
-, não vá esperando um filme “cabeça”, de difícil entendimento, justificativa
para muita produção mal-feita que vemos com freqüência por aí.
A trama é
consistente, a trilha sonora é belíssima – interpretada de vez em quando pelos
protagonistas, embora não seja um musical – direção, elenco, figurino,
maquiagem... tudo funciona.
O filme gira
em torno da bela Audrey Dana, no papel da inconseqüente Ilva Lemoine. Sua
intensa vida pessoal tem como pano de fundo os acontecimentos históricos
relacionados à ocupação francesa pelo nazismo na segunda grande guerra, mas se
estende por boa parte do século XX.
Somente ao
apagar das luzes é que Lelouch escorrega um pouco, utilizando a receita pronta
dos dramalhões americanos, ao forçar um desfecho água com açúcar, previsível.
Isso, no entanto, tem a ver com o tom de comemoração e despedida utilizados
pelo diretor, o que contribui para irmos embora com uma sensação de leveza e a
remota esperança de que, quem sabe também na vida real, tudo irar conspirar
para um final feliz.
Talvez aí
resida a magia do cinema.