quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Minhas Tardes no Cinema



A chegada do Espaço Itaú de Cinema trouxe um grande alento aos cinéfilos de Brasília. Só nesses primeiros dias, a saudade me fez ver logo quatro filmes lá, exatamente aqueles que dificilmente passariam na cidade caso não tivéssemos esse novo empreendimento. Vi o argentino “Um Conto Chinês”, os franceses “Minhas Tardes com Margueritte” e “O Garoto da Bicicleta” e o brasileiro “As Canções”. Todos excelentes.

Se você gosta de cinema e pretende ver pelo menos um, minha sugestão é “Minhas Tardes com Margueritte”, uma produção delicada, sensível e que conta com uma atuação esplendorosa de Depardieu, o que não chega a ser nenhuma novidade. O incansável ator, ao longo de quase meio século de carreira, ruma para sua 200ª. atuação.

Adorado em seu país de origem, Depardieu tem uma história de vida conturbada. De família humilde, quando adolescente cometeu pequenos delitos até ser encaminhado ao teatro por uma assistente social. Seu filho Guillaume, também ator, morreu em 2008 aos 37 anos, de pneumonia. Já em 2011, Gerard Depardieu foi notícia no mundo inteiro por um motivo, no mínimo, curioso. Fez xixi no corredor de um avião, quando viajava de Paris para Dublin.

Em Cartaz


O incêndio que consumiu três salas de cinema na Academia de Tênis decretou o encerramento das atividades daquele importante espaço cultural de Brasília. Já faz mais de um ano que os cinéfilos da cidade estão órfãos de produções independentes, ou pelo menos fora do circuito dos shoppings. Se comparada com algumas metrópoles do país, Brasília ainda tem um número razoável de salas. Apesar disso, a diversidade é baixa e procurar um bom filme alternativo não tem sido uma tarefa fácil.
Nesse contexto, a mostra CCBB Em Cartaz, entre os dias 11 e 30 de outubro no Cine Brasília, é um presente para os candangos. São quinze filmes inéditos na Capital. Surpreendentemente, as primeiras sessões não têm lotado o antigo e confortável cinema do eixinho sul... e olha que a entrada é franca.
Aproveitei o feriado desta quarta-feira para assistir ao filme francês “Esses Amores”, de Claude Lelouch. O septuagenário diretor faz uma espécie de revival à sua trajetória profissional num belo filme, que não foi bem recebido por alguns críticos, talvez por conta de sua, digamos, heterogeneidade.
Como sempre, não gostei do título em português. Acho a expressão sem peso. Daqui a uns quinze dias, se alguém perguntar, já não lembro mais o nome do filme. De qualquer forma, tenho uma birra com distribuidores, até porque, o original - Ces Amours-là – significa exatamente isso, ou Esse Tipo de Amor, numa tradução literal. O título em inglês – What Love May Bring, ou O Que o Amor Pode Trazer – consegue ser ainda mais piegas. 
Apesar de certa liberdade no estilo e na estética – principalmente no início e no final -, não vá esperando um filme “cabeça”, de difícil entendimento, justificativa para muita produção mal-feita que vemos com freqüência por aí.
A trama é consistente, a trilha sonora é belíssima – interpretada de vez em quando pelos protagonistas, embora não seja um musical – direção, elenco, figurino, maquiagem... tudo funciona.
O filme gira em torno da bela Audrey Dana, no papel da inconseqüente Ilva Lemoine. Sua intensa vida pessoal tem como pano de fundo os acontecimentos históricos relacionados à ocupação francesa pelo nazismo na segunda grande guerra, mas se estende por boa parte do século XX. 
Somente ao apagar das luzes é que Lelouch escorrega um pouco, utilizando a receita pronta dos dramalhões americanos, ao forçar um desfecho água com açúcar, previsível. Isso, no entanto, tem a ver com o tom de comemoração e despedida utilizados pelo diretor, o que contribui para irmos embora com uma sensação de leveza e a remota esperança de que, quem sabe também na vida real, tudo irar conspirar para um final feliz.
Talvez aí resida a magia do cinema.