sábado, 28 de abril de 2012

Amor à italiana


Fui assistir à película italiana As Idades do Amor sem grandes expectativas. Trata-se da continuação de uma franquia iniciada em 2005, tanto que a tradução literal do título original seria “Manual do Amor 3”. A segunda parte nem chegou a ser exibida no Brasil e essa última possivelmente só está sendo pelas presenças ilustres de Robert de Niro e Monica Belucci, que atuam na última parte do filme, aliás, disparadamente a mais fraca. 

São três episódios: Juventude, Maturidade e Além. Encontros casuais entre os personagens e um inútil e desnecessário cupido motorista de táxi estabelecem o link entre as três histórias. Tem-se a impressão de que algo no final irá fazer alguma amarração. Ledo engano.Amor à

As duas primeiras – notadamente a segunda – são interessantes e engraçadas, embora deponham contra o amor, que deveria ser o tema do filme. O foco é sexo e traição. Destaque para o âncora de telejornal em Maturidade, responsável pelas cenas mais hilárias.

O último episódio, no entanto, não diz a que veio. É uma história óbvia, piegas e sem graça. O próprio título já incomoda. A única associação que se pode fazer com Além é o aspecto caquético de De Niro, agravado por suas grotescas caretas.

Curiosas as críticas de cinema. Li na Reuters que essa última parte é mais bem resolvida do filme. Achei horrível. Assista e decida quem está com a razão.

domingo, 22 de abril de 2012

Made in China


A China inundou o Brasil com seus carros. É, mas não é só de JAC, Chana (eu, hein?), Chery, Lifan ou Effa que vive a indústria chinesa. Hoje, o gigante asiático fabrica de tudo – com métodos discutíveis, diga-se de passagem – inclusive filmes, e dos bons, apesar de, às vezes, chegarem por aqui algumas porcarias, geralmente relacionadas às artes marciais. 

Mas o grande filme que eu quero comentar hoje é Flor da Neve e o Leque Secreto. Ok, a película não é genuinamente chinesa, é meio americana (o diretor Wayne Wang, a exemplo do compatriota John Woo, mora há décadas nos Estados Unidos e o filme tem até uma ponta do Hugh “Wolverine” Jackman), mas tem um ritmo oriental, elenco e fotografia predominantemente chineses e representa um retorno do diretor às suas origens.

Geralmente fico meio embananado em filmes orientais, pois não distingo muito bem os personagens. Até demorei bastante para perceber que as amigas do século XIX e dos tempos atuais eram representadas pelas mesmas atrizes. Essa, aliás é a trama do filme, a relação de amizade/fraternidade conhecida como laotong – unidas pela eternidade, em mandarim.  

Os homens são elementos periféricos do filme, e sempre que aparecem é pra serem detonados. Nem o Wolverine escapa.

Se você é daqueles que têm uma certa prevenção em relação a produções asiáticas, por considerá-las sonolentas ou ininteligíveis, vá sem medo, não é nada disso.

Pra variar, estou elogiando um filme bombardeado pela crítica. Mas pra mim, se é uma história diferente - o que elimina a maioria das produções americanas - bem dirigida, com boa fotografia, prende a atenção do espectador e não deixa a sensação de dinheiro jogado fora (como andam caros os ingressos em Brasília, notadamente pra quem não frauda carteira de estudante!), às favas com a crítica.

Recomendo!    

sábado, 7 de abril de 2012

Comer, Rezar, Corromper


Lá pela década de 80, aos 17 anos de idade, ainda morando em Fortaleza, meu irmão publicitário me arrumou um estágio numa estação de TV. Passei uns cinco anos nessa área. No início, fazia edição eletrônica de matérias jornalísticas. Depois, trabalhei numa agência de propaganda, dirigindo comerciais para televisão.

Nessa época, surgiu a oportunidade de estudar cinema em Cuba, na universidade San Antonio de Los Baños. Foi quando me vi numa encruzilhada profissional. 

Como quem tem, tem medo, e ciente da minha total falta de talento, achei que passar dois anos comendo arroz com banana no Caribe não me traria grandes benefícios. Resultado: ao invés de embarcar na Cubana de Aviación rumo a Havana, acabei mesmo foi num busão da Itapemirim a caminho do sertão pernambucano. O mundo pode ter perdido um futuro Tarantino, mas a agência do BB no alto Pajeú ganhou o escriturário que procurava há meses.

Bom, mas porque estou contando tudo isso? Porque cinema continua sendo uma das minhas paixões. Pra mim, um bom filme pode ser um Eisenstein do inicio do século XX, um clássico de Bergman, um Almodóvar, um Dogma 95, ou até mesmo um enlatado americano.

À época do incêndio no Cine Academia, Brasília ficou meio restrita ao circuito comercial. Um dia, tentei garimpar alguma coisa pelos shoppings da cidade. Apesar das referências pouco animadoras, fui ver Comer, Rezar, Amar. Só não vou dizer que meus piores pesadelos se confirmaram porque, para quem teve uma semana difícil, a película nos induz a um sono tranquilo e reparador.

Cheio de obviedades, não adianta esperar que em algum momento surja algo que tire a história do previsível desfecho entre a chatíssima Julia Roberts e seu par, o excelente Javier Bardem e sua tripla nacionalidade: espanhol, brasileira e... paraguaia. Sim, porque seu personagem tupiniquim se mostrou mais falsificado que os DVDs à venda nos barzinhos candangos.

Mas é como diz aquele ditado impublicável: gosto todo mundo tem um, porque vários conhecidos adoraram aquela porcaria...

Decepcionado com essa primeira experiência, encarei um segundo desafio. Havia prometido ao meu filho que o levaria para disputar à tapa, com centenas de cinéfilos ensandecidos, dois lugares na semana de estreia de Tropa de Elite 2.

E não é que valeu à pena? Eu havia gostado do primeiro, mas, como é de praxe, imaginava que a continuação seria apenas uma forma da dupla Padilha/Moura aproveitar o sucesso inicial para ganhar mais uns trocados. Como diretor, José Padilha amadureceu. Em determinados momentos, a sensação de se tratar de um documentário é tão forte que fiquei imaginando o impacto do filme sobre o resultado das urnas no Rio de Janeiro, caso seu lançamento tivesse ocorrido antes do primeiro turno das eleições de governador.

Falar sobre corrupção, de tão banal, tornou-se algo extremamente chato. O alvo óbvio são os políticos. Mas Padilha parece ter encontrado a fórmula – e aí reside um dos pontos fortes do filme – de demonstrar a corrupção congênita do ser humano, que se faz presente em todas as esferas da sociedade: na política, no trabalho, e mesmo nos círculos de amizade.

O que chega a causar náusea em determinados momentos é a percepção de que a estrutura da bandidagem se mostra muito mais abrangente do que a imaginada inicialmente. Suas formas de intimidação algumas vezes são sutis, mas geralmente são explícitas, ameaçadoras, o que leva a maioria das pessoas, mesmo as bem-intencionadas, à atitude mais prudente: a omissão. Algumas passagens do filme reafirmam isso, como, por exemplo, no marcante desfecho da reintegração do capitão André Matias ao BOPE.

No nosso dia-a-dia, invariavelmente, em algum momento nos deparamos com algum tipo de picaretagem. E a tendência é nos acomodarmos. É muito mais seguro. No máximo, fazemos um ou outro comentário com alguém mais próximo. Mas acredito que, de alguma forma, sempre há algo a ser feito. E é aí que devemos atuar. É a tal história: adoramos falar da dívida externa do país, mas não gostamos de comentar a conta que penduramos na padaria da esquina (se Brasília tivesse esquinas, claro).

Quem sabe, se houver mais indignação, se determinadas práticas forem menos aceitas, se formos menos permissivos no nosso cotidiano, talvez pequenas mudanças comecem a ocorrer e se transformem em algo maior. Quem sabe, o surrado bordão do primeiro Tropa - “Pede, para sair!! Pede para sair!!” - pode se tornar um grande coro nacional.

Pra terminar num clima mais light, tirando um pouco o tom amargo que tomou conta de mim na elaboração desse texto, lembrei de um fato pitoresco da minha fase pré-BB: na campanha política de 1986 (é, estou ficando velho…), um amigo – o publicitário paranaense Carlos Deyró – recebeu a encomenda de um jingle para um candidato (por sinal, corrupto até a alma, vim saber depois) e ele se dizia sem inspiração para compor. A música que enchia o saco na época era He-Man (coisas da Xuxa, isso há um quarto de século atrás!). Peguei um bloquinho de anotações, comecei a rabiscar uns chavões e, em menos de cinco minutos, tinha uma página inteira de bobagens escritas. De brincadeira, falei:
– Tá pronto!

Não é que ele levou a sério? Foi o primeiro free lancer da minha vida.

Essa semana, num happy hour da equipe, a pedidos, dei uma canja pra galera:
– “... Eu tenho a força, sou eleitooor, vamos amigos, em (nome omitido por razões óbvias) vamos votar!”…

Ganhei vários chopes, sob a promessa de nunca mais abrir a boca pra cantar aquilo...

Lirismo Chileno


A Dançarina e o Ladrão – filme espanhol de 2009, mas que só agora chegou ao Brasil – com  atores argentinos e ambientado no Chile, é um grande acerto do diretor Fernando Trueba. Tirando alguns lugares-comuns do roteiro – ex-presidiário que é chamado para um novo crime, resiste, resiste, mas acaba cedendo; o bandido experiente ensinando o aprendiz; o talento da bailarina pobre  – a película é delicada e emocionante.

Se olharmos apenas para o elenco, a impressão óbvia é de que a trama gira em torno do personagem de Ricardo Dárin – o principal ator do excelente cinema argentino, que está anos-luz à frente do nosso. Mas não é o caso. O casal de quase-adolescentes, Angel e Victoria, é que rouba a maioria das cenas, bem como o título original (El Baile de La Victoria).

Se você está de baixo-astral, não vá ver A Dançarina. A tristeza predomina, e é agravada pela bela fotografia, que explora o Centro de Santiago, a Cordilheira dos Andes. O rio Mapocho, alimentado pelo degelo da Cordilheira, corta a capital chilena e também se faz presente em algumas cenas. Mas há espaço para algum humor, a cargo, principalmente, de Angel.

Darín é uma espécie de Jack Nicholson latino. Escolhe a dedo os filmes em que vai atuar, e em boa parte dos papeis parece estar representando a si próprio. Com certeza, o astro portenho colocará A Dançarina e o Ladrão na sua lista de grandes realizações, ao lado dos excepcionais Nove Rainhas, O Segredo dos Seus Olhos e, principalmente, O Filho da Noiva.