sábado, 29 de dezembro de 2012

A Arca de Pi, ou O menino e o Mar



Se for para eleger um destaque em As Aventuras de Pi, de Ang Lee, fico, sem dúvida, com a belíssima fotografia. Difícil escolher a cena mais marcante. 

O naufrágio – o evento que provoca a grande virada da história – é de dar inveja aos criadores de Titanic.

No título do post, fiz uma brincadeira com o grande livro de Hemingway, O Velho e o Mar, pois a luta do adolescente Pi contra Richard Parker – o faminto tigre de bengala – lembra,  de certa forma, a lenta batalha do velho pescador contra o imenso marlin, embora com objetivos diferentes: Pi tenta, a todo custo, preservar a vida de ambos, a dele e a do felino.   

A luta do hindu, também, é bem mais extensa: são mais de duzentos dias de luta pela sobrevivência. A maior parte do filme se passa no mar, mas isso não o torna cansativo. 

Apesar do caráter alternativo, duvido que essa grande produção não brigue por várias estatuetas no Oscar 2013.

O diretor Ang Lee criou, num velho aeroporto da Ásia, um tanque gigantesco de 70x25 metros, com mais de dois milhões de litros de água. Motores de 150 cv geravam ondas de quase dois metros de altura.

O elenco é quase desconhecido. O nome de mais peso é do desnecessário Dépardieu.

 Uma ou outra cena foi feita com animais de verdade. Mas a maior parte, como era de se esperar, utilizou recursos de computação gráfica (CGI). A questão é que os efeitos de animação foto-realística dos animais são tão convincentes que chegamos até a imaginar como foram encontrar tigres, orangotangos, zebras e hienas tão bem treinados. Nada que lembre os movimentos pasteurizados de Final Fantasy. O 3D também foi usado na medida certa.

A película foi baseada no livro Life of Pi, de Yan Martel. Não nos esqueçamos, no entanto, que o escritor canadense confessou ter se baseado “de certa forma”, no livro Max e os Felinos, do gaúcho Moacyr Scliar, falecido em 2011.

Bem, na movimentada história, temos ainda ilhas carnívoras, divagações religiosas, bananas e multidões de suricatos.

Um baita filme!

domingo, 4 de novembro de 2012

Zumbis Cubanos


Vamos falar de mortos-vivos cubanos.

Não, não estou falando de Fidel e Raúl, os irmãos Castro, e sim de uma versão caribenha, reduzida e divertida da chatíssima série americana The Walking Dead.

Pra quem gosta do gênero terror, mas está de saco cheio com a mesmice de TWD que, até para os aficcionados, se repete insuportavelmente a cada episódio, a comédia Juan dos Mortos (Juan de los Muertos) é uma excelente alternativa.

O mote é o mesmo de dezenas de outros filmes de terror. Não se sabe exatamente como os mortos-vivos apareceram. Mas já que apareceram, eles começam a morder todo mundo e se multiplicar como uma praga.  

Em Juan dos Mortos, as hipóteses para o surgimento dos zumbis são várias, e geralmente estão associadas às intermináveis piadas sobre capitalismo e socialismo: vão desde os remédios vencidos distribuídos pelo governo cubano até uma armação dos imperialistas americanos.

Pra mim, o motivo é outro: os mortos-vivos devem ter se enchido da chatice de Rick, Lori e seus parceiros, chegado a Miami, atravessado os cerca de 166 km do Estreito da Flórida, e se refugiado na ilha de Fidel. Afinal, Juan, seu amigo Lázaro, o travesti China e seu namorado – o brutamontes Primo, que desmaia toda vez que vê sangue – são muito mais interessantes que o caubói e sua trupe de TWD.

Bom, de qualquer maneira, como toda novidade vira um negócio em Cuba, os amigos desocupados criam uma empresa para ajudar a população a se livrar dos monstros que cada vez mais se apropriam de Havana.  O slogan é insólito e hilário: “Matamos seus entes queridos”.

Comédia de terror cubana não se vê todo dia. E essa é das boas. Mesmo a maquiagem, um dos problemas do cinema de terceiro mundo, não decepciona.

O filme do jovem diretor argentino Brugués, 36 anos, é trash, despretensioso, mas muito engraçado. A conferir.  


domingo, 21 de outubro de 2012

Morrendo Junto


E se Vivêssemos Todos Juntos? poderia ser um filmaço. Mas ficou no mais ou menos.  Depois de um início promissor, parece ter acabado o fôlego do diretor, do orçamento... ou quem sabe do elenco septuagenário.

Em determinado momento, traições do passado vêm à tona e parece que a coisa vai deslanchar. Mas não. O fato é que, ao entrarem os créditos, a impressão é de que faltou algo. É apenas uma hora e meia de duração, e fica uma certa sensação de quero mais....

Mesmo assim, vale a pena: pelo tema (que de alguma forma nos remete à recente comédia britânica O Exótico Hotel Marigold), pelo elenco, pela direção segura.

Como na vida real, não há aquele estereótipo de “felizes para sempre” em nenhum dos casais, e sim a firme intenção de cuidar um do outro enquanto a vida se esvai.

Observando as velhinhas do elenco no papel de Annie e Jeanne, é difícil imaginar que Geraldine “Charles” Chaplin é quase uma década mais jovem que Jane Fonda.  

De qualquer maneira, sempre há algo a refletir em produções que exploram a devastadora e inexorável passagem do tempo e a chegada da velhice, especialmente quando ela já começa a flertar com o expectador...

Um título possível seria “E se Morrêssemos Todos Juntos”...

sábado, 20 de outubro de 2012

Woody na França

A cinéfila cearense Cirleide Mara estreia no FilmeCapital. Confira!!



Depois de décadas de filmes ambientados em sua amada cidade natal -  New York - eis que Woody Allen arrumou as malas e partiu pra Europa. Primeiro foi Londres, retratada nos ótimos e sombrios Mach Point(2005) e O Sonho de Cassandra (2007), e no chato Scoopn(2006), mas ele pode dar uma deslizada de vez em quando. Depois na Espanha, com o divertido e sensual Vicky, Cristina, Barcelona (2008), uma mostra das relações humanas e tórridas paixões.


E eis que chega a vez da França. Meia-Noite em Paris é o mais brilhante trabalho do cineasta, e um dos melhores filme de todos os tempos! A começar bela belíssima abertura, mostrando os mais belos e conhecidos locais da cidade - ao som da trilha sonora composta pelo francês Stephane Wrembede - que trazem nostálgicas lembranças para aqueles que conhecem e adoram a magia de Paris, com ou sem chuva... De cara, já dá pra imaginar  o que vem pela frente.

Somos apresentados a Gil Pender (Owen Wilson, mais conhecido por papéis cômicos), um insípido roteirista de Hollywood, insatisfeito com os rumos que sua vida tomou, e que se apaixona pela cidade logo que chega, ao lado de sua noiva, a fútil Inez (Rachel McAdams) e de seus pais igualmente insuportáveis. Enquanto o casal passeia pelos pontos turísticos da cidade, surge um antigo amigo de Inez, o pedante e metido a intelectual Paul (Michael Sheen), acompanhado de sua namorada. Podemos então constatar o desgaste da relação do casal Pender. 

Irritado com o pedantismo de Paul e a indiferença de Inez, e embriagado pela beleza da cidade, Gil decide passear sozinho, à noite, pelas ruas de Paris, e aí o filme mostra a que veio, permitindo a Woody Allen abusar de sua criatividade e genialidade ao nos apresentar seu premiado e espetacular roteiro original, ganhador do Oscar 2012, que ele nem se deu o trabalho de receber.

Como não na maioria de seus filmes, Allen utiliza o surrealismo para levar Gil de volta à Paris dos anos 20, década que ele considera a melhor de todas para se viver, na qual passa a viver a maior e mais inacreditável experiência de sua existência, ao se encontrar com grandes artistas e intelectuais da época: boêmios, escritores, pintores, bons vivants que viviam na capital francesa, como Cole Porter, Ernest Hemingway, Scott e Zelda Fitzgerald, Pablo Picasso e tantos outros, muitos retratados de forma sutil, quer seja em uma grande obra (Picasso Baigneusse), numa canção (Let’s do It) ou simplesmente num acontecimento, como a atentativa de Zelda em se afogar no Sena, revelando seu comportamento neurótico (a esposa de Scott foi internada por esquizofrenia em 1930).

Inspirado pela nostalgia da época, Gil decide terminar seu livro, voltando a sentir o prazer de escrever. O roteiro é bem amarrado entre as noites de Gil junto aos seus novos amigos e os  dias de insatisfação e infeliz realidade. 

Gil conhece a bela Adriana, amante de Pablo, que já havia  tido um relacionamento com Modigliani. A paixão não concretizada transporta ambos aos anos 1890, La Belle Epoque, que Adriana considera a melhor época de viver. Ao se encontrarem com os pintores Toulouse-Lautrec e Paul Gaugin, o casal imagina que melhor seria ter vivido na Renascença...
O filme é uma bela reflexão sobre como as pessoas nunca estão satisfeitas com suas vidas ou se sentem deslocadas com o tempo em que vivem. Gil passa a aceitar que o presente é o que importa, é isso o que temos e é aí onde devemos ser, estar e lidar com nossas limitações e frustrações.

Frase que o chato Paul diz a certo momento, e que traduz com perfeição a mensagem do filme: “Nostalgia é negação – negação do doloroso presente - uma noção equivocada de que uma época, uma era dourada, é melhor do que aquela em que se vive; uma falha na imaginação romântica das pessoas que acham difícil ocupar-se do presente”.

Maravilhoso e emocionante, um filme que nos deixa à beira das lágrimas durante a sessão inteira, de tão belos os diálogos, a trilha sonora, as ruas de Paris.

Enfim, um filme eterno, para ver e rever mil vezes.




sábado, 13 de outubro de 2012

Laços do Tempo


Looper – Assassinos do Futuro entrega o que promete. Um thriller com muita ação e um roteiro criativo, relativamente verossímil e fácil de acompanhar. Bom, eu, pelo menos, achei, mas pelo que vi em algumas resenhas, teve gente que “viajou”.

Mas bem que o roteirista poderia descomplicar um pouquinho. É que, na história, o futuro está 30 anos à frente do presente, que no caso se passa em 2044, ou seja, pouco mais de 30 anos adiante dos dias atuais. Teve gente que achou que o presente era o futuro, mas na verdade era o passado. Entendeu? Não? Deixa pra lá...  

Como deu pra perceber, o assunto é a mais que manjada máquina do tempo. Em 2074, viajar para o passado é uma contravenção. E os criminosos têm um problema adicional: se  matar alguém, não há como esconder o corpo. Por isso, quando quer “apagar” um desafeto, a bandidagem arma um esquema para mandar o cara ao passado para que seus empregados façam o serviço. O loop (laço), no caso, se fecha quando os criminosos do presente chegam ao futuro, momento em que ocorre uma queima de arquivo.

E é por conta disso que, previsivelmente, as duas gerações do herói Joe (Gordon-Levitt ou Bruce Willis) ficam frente à frente. Mais previsível ainda, na cartilha dos enlatados americanos, é o envolvimento dos protagonistas com uma bela mulher, o que direciona boa parte de suas atitudes.  

Seja qual for o filme, Bruce Willys interpreta o mesmo personagem: o Duro de Matar 171, que sai matando todo mundo. Deve constar do contrato: tenho que ter uma cena em que saio atirando feito um louco em qualquer um que aparecer na minha frente...

Em determinados momentos também há um dejavú de outro filme de Willis, O Sexto Sentido, pois surge um menininho meio encapetado...

Tudo bem, é aquela coisa americanalhada, plastificada, que estamos acostumados a ver. Mas pra quem gosta de uma história movimentada, com muita ação, é um bom programa.



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Vampiro Capitalista


Fui ver Cosmopolis com grandes expectativas. Parecia ser o tipo de filme que me agrada: a crítica adorou e a história parecia interessante. Um cara “estribado”, vagando pela cidade em sua limusine e vivendo várias situações insólitas, desde um encontro casual com sua própria esposa até um inusitado exame de próstata.  

Eric Packer (protagonizado pelo enjoado vampiro crepuscular Robert Pattinson), um experimentado especulador apesar dos seus 28 anos, perde bilhões num único dia ao apostar contra o Yuan, a moeda chinesa, mas permanece impassível – a la Tarcísio Meira – no interior do seu imenso veículo, gastando um dia inteiro apenas para atravessar uns poucos quarteirões e cortar o cabelo, enquanto do lado de fora o pau come nas ruas de Nova Iorque.

O livro homônimo, que deu origem ao filme remete a algumas idéias do manifesto de Marx, e se propõe a fazer uma crítica ao capitalismo, um trololó que ninguém mais agüenta, apesar da abordagem diferente.

As viagens filosóficas permeiam todo o filme, mas atingem seu ápice no interminável diálogo entre Packer e seu provável assassino.

Juliette Binoche está nos créditos, mas quase passa despercebida e aparece em cena somente por um dois minutos, tempo suficiente para dar umazinha com o vampiro financeiro.

Mais uma produção pseudo-cult na longa filmografia do diretor canadense David Cronenberg. Se você quer um programa para descontrair, fuja de Cosmopolis, que suga mesmo é a energia do espectador. 

É muito baixo astral. E chato também.  

domingo, 30 de setembro de 2012

Polissia para quem precisa...


O cinema europeu – principalmente o escandinavo, embora não seja o caso – adora explorar questões relacionadas a violência familiar, bulliyng e pedofilia.

Mas Polissia (Polisse) não é somente isso. Apesar do tema que sempre choca, a produção francesa vai fundo mesmo é na história dos policiais da Brigada de Proteção a Menores  francesa. Eles são os verdadeiros protagonistas, não pelos atos heróicos ou pela corrupção, mas sim por seus dramas pessoais, seja em casa ou no próprio ambiente de trabalho.

Os próprios crimes – baseados em fatos reais – propositalmente não têm continuidade, e são muito fragmentados. No início, há algumas cenas meio apelativas e até a sensação de um filme policial convencional, mas definitivamente não se trata disso.  

Dificilmente você irá reconhecer a diretora de Polisse - Maïwen Le Besc – como um dos personagens apenas pela foto ao lado. Ela interpreta a insossa fotógrafa Melissa, que ao longo da trama ganha um temperinho ao tirar os óculos, soltar o cabelo e ganhar espaço no enredo.     

Maïwen adotou um certo tom de documentário, o que dá maior veracidade à trama. 

Frequentemente o cinema francês adota uma estética meio descuidada, o que não pode ser confundido com falta de qualidade. Isso é proposital. Até a falta de vaidade de suas mulheres não as torna menos interessantes, embora reforce a lenda de que não gostem muito de tomar banho... 

Os personagens são mais densos e pareceriam até pessoas comuns, se não fosse o imenso fosso cultural entre os policiais de lá com os nossos.

Por fim, o premiado Polissia não é uma diversão familiar de fim-de-semana, mas deve ser assistido por quem gosta de um cinema mais denso, reflexivo, porém não tão rebuscado que obrigue o espectador a assistir cinco vezes para saber do que se trata. 

domingo, 16 de setembro de 2012

Ditadura Meia-Boca



Sacha Baron Cohen tentou fazer uma espécie de Borat II em O Ditador. Mas não se saiu bem.  

O filme até que começou nos dando a esperança de algo digerível, mas depois da primeira meia hora já havia apresentado todo o arsenal de piadas previsto.

A partir daí, adotou uma fórmula mais que batida, combinando o estilo comédia de erros – na  qual o protagonista é defenestrado e fica o tempo todo tentando provar quem é – com aquelas improváveis mas previsíveis histórias de amor das comédias água com açúcar do cinema americano, nas quais a mulher bacana tem um caso com um cara retardado, cujo único atrativo é ser o personagem principal do filme.

Um Ben Kingsley subutilizado, sem dizer bem a que veio, contribui para reforçar a ideia de um roteiro confuso e mal-resolvido, que não se decide entre o escracho politicamente incorreto e a crítica à pseudo-democracia norte-americana.

Possivelmente, o filme seria mais divertido se Aladeen (Sacha Baron) passasse mais tempo como ditador em sua longínqua Wadiya – uma rica nação norte-africana – e não como um sem-teto perdido pelas ruas de Manhattan.

A impressão que dá é que acabou a grana para a continuidade das externas realizadas no Marrocos e nas Ilhas Canárias.  

Borat foi um sucesso, e embora não tenha sido uma unanimidade, todos reconheceram em Sacha Baron um comediante diferente. Bruno, seu segundo filme, já foi um desastre completo. 

O Ditador não é tão ruim quanto Bruno, mas dá a entender que o humor cáustico de Sacha Baron cansou cedo demais, já no seu terceiro filme. 

domingo, 19 de agosto de 2012

360 - Um Meirelles contido


Segundo o próprio diretor Fernando Meirelles, 360 é seu filme mais simples, sem temas polêmicos, tratando apenas de situações cotidianas – e por vezes dramáticas – de diversos casais ao redor do mundo.

O título se faz presente no encadeamento de várias histórias paralelas, que fecham um círculo durante seu desenrolar. Alguns o associaram à virada na vida de seus personagens, o que demonstra um certo desconhecimento de trigonometria, pois nesse caso o título seria 180.

Ao contrário do que se possa imaginar, os maiores nomes do elenco - Jude Law, Rachel Weisz e o grande Anthony Hopkins – não são os personagens principais da trama. Na realidade, não há um papel central, e Meirelles democratiza a importância de cada um.

O roteiro é baseado na peça “La Ronda”, suas conexões são, por vezes, desconexas, mas o conjunto agrada. Algumas das histórias fogem do lugar-comum, e a mais surpreendente é o desfecho da situação vivida pela atriz carioca Maria Flor, presa num aeroporto durante uma nevasca e à mercê de um criminoso sexual.

O filme tem méritos e imperfeições, mas talvez pudesse explorar e aprofundar melhor as subtramas mais interessantes, o que não foi possível pelo excesso de dinamismo e mudança de foco, o que, contraditoriamente, acabou por torná-lo um pouco monótono.

domingo, 29 de julho de 2012

Na Terra dos Monges


Mianmar é aquele país em que as mulheres usam aqueles adereços que poderiam perfeitamente ser adotados pelos cearenses: anéis de cobre que alongam o pescoço (como diria o falecido humorista Espanta, nós cearenses nunca usamos esse "acessório", o pescoço).

Bom, após esse comentário politicamente super-hiper-incorreto, vamos falar sério. Até bem pouco tempo, Mianmar chamava-se Birmânia e desde a década de 60 enfrenta turbulências políticas. Somente em 2011 o país voltou a ter um governo civil e esse caos político de meio século transformou-o na nação não-africana (Mianmar fica na Ásia) mais pobre do mundo.

De vez em quando, Mianmar ainda é agitada por manifestações políticas agitadas, muitas vezes lideradas por monges budistas.

Além da Liberdade conta a história real de Suu Kyi (interpretada pela atriz malaia Michele Yeoh), que deixou a Inglaterra e retornou à terra natal para visitar a mãe enferma no final dos anos 80 e acabou permanecendo para lutar pela redemocratização do país.

O renomado diretor Luc Besson – cuja carreira é recheada de roteiros de ação – em determinado momento “abandona” a história de Suu Kyi para centrar o foco do filme no seu marido, Michael Aris (interpretado pelo excelente David Thewlis, que também vive no filme o papel de seu irmão gêmeo). Mike é um altruísta professor universitário, doente terminal, que fica cuidando dos filhos por décadas, enquanto sua mulher tenta cuidar de alguns milhões de compatriotas. Uma das estratégias utilizadas por Aris para salvar sua esposa é conseguir sua indicação para o prêmio Nobel da Paz, no que, aliás, obtém sucesso, em 1991. 

Somente vinte e um anos depois, Suu Kyi conseguiu receber pessoalmente a premiação, em Oslo, já em 2012.

Além da Liberdade vale o ingresso até como fato político-histórico, apesar desse tipo de filme sempre levar a visão pessoal e por vezes desvirtuada de seus produtores.

Aproveitando, o Espaço Itaú, no Casa Park, em Brasília, está em promoção até 16/08/12. Nas primeiras sessões de cada sala, meia-entrada pra todo mundo, inclusive nas salas 3D.





sábado, 30 de junho de 2012

Bicicletando


A belíssima foto publicada no Facebook pelo meu amigo Samuel “Frangosul” Andrighetti mostra o francês Robert Jacquinot recuperando as energias durante a volta da França de 1922. No final, ele foi superado pelo belga Firmin Lambot.

Essa publicação me fez lembrar de uma animação relacionada ao evento, produzida há quase dez anos (2003), que gerou percepções antagônicas. Uns a acharam tediosa, outros, maravilhosa. Estou mais para o segundo time.


Porque, definitivamente, As Bicicletas de Belleville não é um filme convencional. É um desenho pitoresco, criativo, cujos principais personagens são uma velhinha, seu deprimido neto e seu fiel cachorro. Embora não tenha  as características de um filme mudo, ele praticamente não tem diálogos.


A dinâmica é totalmente diferente dos desenhos animados atuais. Ainda bem. Mas, apesar do ritmo lento, não se deve esperar nada parecido com o que assistíamos há décadas. Bicicletas é único, insólito, quase bizarro.

O filme tem algumas abordagens bem sutis, que muitas vezes só podem ser percebidas pelos espectadores mais atentos. É interessante a dicotomia entre o escracho e a delicadeza.

Críticas ao consumismo, à valorização da estética, ao capitalismo, alternam-se às demonstrações de amor extremo da simpática madame Souza na busca incessante pelo neto desaparecido.    

Li em outro post que “... o fio condutor da história é fraco, o desenvolvimento é lento e moroso, as personagens se movem ao sabor das vicissitudes...”. Pode ser. O cinema – como, aliás, quase tudo na vida – tem dessas coisas. Um mesmo fato observado sob duas óticas distintas, por vezes antagônicas.

O título original – Les Triplettes de Belleville – faz referência às trigêmeas idosas, cantoras de cabaré de Belleville que ajudam a vovozinha na tentativa de libertar Champion, seqüestrado durante o Tour de France.

Por ser uma produção franco-canadense, a própria citação a Belleville já é uma crítica bastante subliminar, pois trata-se de uma pequena cidade do Canadá com menos de 50 mil habitantes. No entanto, a Belleville do filme está muito mais para uma Nova Iorque caótica e decadente, que conta, inclusive, com  uma Estátua da Liberdade meio fora de forma, precisando perder uns quilinhos...

Enfim, Bicicletas é um anti-Madagascar. Definitivamente, não é uma animação feita para crianças. Seu humor é sutil, de difícil assimilação. Para assisti-lo, só em DVD, pois há tempos já saiu do circuito. Mas vale a pena.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Perdendo o fôlego

Assistir a vários episódios de uma série na sequência, um atrás do outro, é sempre mais interessante do que ver um a cada semana. Você capta melhor o ritmo, assimila melhor os personagens e a consistência do roteiro. 

Normalmente, séries de humor (Friends, Two and a Half Men, The Big Bang Theory) têm mais fôlego para aguentar várias temporadas. Já drama, ação, suspense, aí fica mais complicado. É como novela. Chega um momento em que a trama central, por melhor que seja, cansa.

The Walking Dead, um dos maiores sucessos da TV mundial, tem uma história que prende a atenção para quem gosta dessa coisa meio trash de zumbis, mortos-vivos, fim do mundo, etc.

Tecnicamente, a qualidade é excelente. Os walkers realmente são convincentes. Mas chega um momento em que é preciso algo mais para segurar a trama. E é aí que entram os dramas pessoais.

Traição, amizade, amor adolescente, perda, superação, ou seja, todos os componentes que a gente vê em qualquer filme classe B que passa nos shoppings da cidade. E, como toda produção comercial, não há uma preocupação com a coerência dos personagens. 

Assim é que, no final da segunda temporada, o bonzinho Rick (que de tão certinho se torna um chato de galocha), de repente passa a ser injustamente questionado por todos, e aceita tudo normalmente.

Vamos ver se a terceira temporada – que deve chegar ainda este ano – traz alguma novidade para The Walking Dead. Caso contrário, duvido que ela sobreviva muito tempo, restanto a seus aficcionados retornarem às histórias em quadrinhos que deram origem à saga.

Com certeza o irmão de Daryl – o tal João-sem-braço que foi abandonado algemado na cobertura de um prédio ainda na primeira temporada – deve reaparecer. Afinal, com a morte de Shane, só restaram chatonildos dentre os sobreviventes da invasão à fazenda do Dr. Hershel.  

sábado, 16 de junho de 2012

Noite Perdida


O fato de Apenas Uma Noite ser dirigido por uma iraniana - a estreante Massy Tadjedin – me deu a ilusão de ver alguma coisa diferente dos modorrentos e repetitivos dramas românticos do cinema americano. Ledo engano. O filme é basicão, previsível, e a única coisa razoável é que todos os seus personagens têm seus defeitos e qualidades, sem maniqueísmos.


Joanna (Keira Knightley, excelente quando interpretou a maluquete de Um Método Perigoso) e Michael (Sam Worthington) envolvem-se, numa mesma noite, em casos extra-conjugais. 

Ao contrário do que possa parecer nos minutos iniciais do filme, não se trata daquela clássica situação do traidor e do traído, e duas histórias paralelas se desenrolam. Mas nada muito original.

O caso entre Michael e Laura (Eva Mendes), além de óbvio, é chatíssimo. Não sei porque, mas Worthington me lembrou muito o Tarcísio Meira de décadas atrás, com aquele rosto congelado e sem expressão, mesmo que o mundo esteja caindo sobre a sua cabeça. Ele até que se sai razoavelmente em filmes de ação, como Avatar ou Fúria de Titãs, mas em Apenas Uma Noite sua atuação foi patética.

Já o outro lado da trama, entre Joanna e Alex, pelo menos tem algum glamour.


Bom, se você não se importa de perder apenas uma noite da sua vida, pode assistir. Mas não vai lhe acrescentar absolutamente nada...




sábado, 9 de junho de 2012

O Jogo Continua


Terminada a segunda temporada de Game of Thrones, vamos a mais uma postagem sobre a série que vem dominando o mundo.

Na primeira temporada, elegi como destaque a rainha-vilã Cersei Lannister, seu irmão-anão  Tyrion Lannister, Daenerys Targaryen e a pequena Arya Stark. Vou me reposicionar.

Tyrion, vivido pelo ator Peter Dinklage (foto) e Arya até que se mantiveram bem. Daenerys, no entanto, foi uma chatice só. Quando ela aparecia, o tempo inteiro suja, com aquela cara de choro, dava vontade de chorar também. Foram nove episódios de tormento. Somente no décimo ela resolveu fazer alguma coisa. Ela não, seus dragõezinhos.



Quanto a Cersei, manteve-se bela como sempre. Descobri que Lena Headey (foto), a atriz que a interpreta, não é loira, mas ainda assim dá um caldo... De qualquer forma, sua personagem perdeu consistência, oscilando entre a maldade e a submissão, principalmente ao filhote-ditador.

Joffrey, aliás, foi uma das gratas surpresas. Sua transformação de menino-mimado-idiota em reizinho-psicopata-sádico foi uma grande sacada e fez muito bem à trama.


A Andrógina Brienne e, principalmente, o estranho Jaqen H'ghar foram as revelações da temporada. Só não entendi uma coisa: Jaqen fazia o diabo, matava todo mundo, desaparecia, mudava de rosto, era praticamente o Jáspion!!! Mas precisou de uma garotinha para conseguir sair de uma gaiolinha furreca, ficando em dívida com a pequena Stark. Vá entender... 

Bom, mas está todo mundo esperando a terceira temporada, que começa a ser filmada já em julho próximo, e corresponderá apenas à primeira parte do terceiro livro da série Crônicas de Gelo e Fogo. 

Pra quem, como eu, vive se enrolando com o monte de personagens da série, recomendo o link http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_personagens_de_Game_of_Thrones. Sempre que você se perder, volta lá e se localiza.


Bom, mas está todo mundo esperando a terceira temporada, que começa a ser filmada já em julho próximo, e corresponderá apenas à primeira parte do terceiro livro da série Crônicas de Gelo e Fogo. Já tem gente lendo o livro porque não agüenta esperar...