sábado, 30 de junho de 2012

Bicicletando


A belíssima foto publicada no Facebook pelo meu amigo Samuel “Frangosul” Andrighetti mostra o francês Robert Jacquinot recuperando as energias durante a volta da França de 1922. No final, ele foi superado pelo belga Firmin Lambot.

Essa publicação me fez lembrar de uma animação relacionada ao evento, produzida há quase dez anos (2003), que gerou percepções antagônicas. Uns a acharam tediosa, outros, maravilhosa. Estou mais para o segundo time.


Porque, definitivamente, As Bicicletas de Belleville não é um filme convencional. É um desenho pitoresco, criativo, cujos principais personagens são uma velhinha, seu deprimido neto e seu fiel cachorro. Embora não tenha  as características de um filme mudo, ele praticamente não tem diálogos.


A dinâmica é totalmente diferente dos desenhos animados atuais. Ainda bem. Mas, apesar do ritmo lento, não se deve esperar nada parecido com o que assistíamos há décadas. Bicicletas é único, insólito, quase bizarro.

O filme tem algumas abordagens bem sutis, que muitas vezes só podem ser percebidas pelos espectadores mais atentos. É interessante a dicotomia entre o escracho e a delicadeza.

Críticas ao consumismo, à valorização da estética, ao capitalismo, alternam-se às demonstrações de amor extremo da simpática madame Souza na busca incessante pelo neto desaparecido.    

Li em outro post que “... o fio condutor da história é fraco, o desenvolvimento é lento e moroso, as personagens se movem ao sabor das vicissitudes...”. Pode ser. O cinema – como, aliás, quase tudo na vida – tem dessas coisas. Um mesmo fato observado sob duas óticas distintas, por vezes antagônicas.

O título original – Les Triplettes de Belleville – faz referência às trigêmeas idosas, cantoras de cabaré de Belleville que ajudam a vovozinha na tentativa de libertar Champion, seqüestrado durante o Tour de France.

Por ser uma produção franco-canadense, a própria citação a Belleville já é uma crítica bastante subliminar, pois trata-se de uma pequena cidade do Canadá com menos de 50 mil habitantes. No entanto, a Belleville do filme está muito mais para uma Nova Iorque caótica e decadente, que conta, inclusive, com  uma Estátua da Liberdade meio fora de forma, precisando perder uns quilinhos...

Enfim, Bicicletas é um anti-Madagascar. Definitivamente, não é uma animação feita para crianças. Seu humor é sutil, de difícil assimilação. Para assisti-lo, só em DVD, pois há tempos já saiu do circuito. Mas vale a pena.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Perdendo o fôlego

Assistir a vários episódios de uma série na sequência, um atrás do outro, é sempre mais interessante do que ver um a cada semana. Você capta melhor o ritmo, assimila melhor os personagens e a consistência do roteiro. 

Normalmente, séries de humor (Friends, Two and a Half Men, The Big Bang Theory) têm mais fôlego para aguentar várias temporadas. Já drama, ação, suspense, aí fica mais complicado. É como novela. Chega um momento em que a trama central, por melhor que seja, cansa.

The Walking Dead, um dos maiores sucessos da TV mundial, tem uma história que prende a atenção para quem gosta dessa coisa meio trash de zumbis, mortos-vivos, fim do mundo, etc.

Tecnicamente, a qualidade é excelente. Os walkers realmente são convincentes. Mas chega um momento em que é preciso algo mais para segurar a trama. E é aí que entram os dramas pessoais.

Traição, amizade, amor adolescente, perda, superação, ou seja, todos os componentes que a gente vê em qualquer filme classe B que passa nos shoppings da cidade. E, como toda produção comercial, não há uma preocupação com a coerência dos personagens. 

Assim é que, no final da segunda temporada, o bonzinho Rick (que de tão certinho se torna um chato de galocha), de repente passa a ser injustamente questionado por todos, e aceita tudo normalmente.

Vamos ver se a terceira temporada – que deve chegar ainda este ano – traz alguma novidade para The Walking Dead. Caso contrário, duvido que ela sobreviva muito tempo, restanto a seus aficcionados retornarem às histórias em quadrinhos que deram origem à saga.

Com certeza o irmão de Daryl – o tal João-sem-braço que foi abandonado algemado na cobertura de um prédio ainda na primeira temporada – deve reaparecer. Afinal, com a morte de Shane, só restaram chatonildos dentre os sobreviventes da invasão à fazenda do Dr. Hershel.  

sábado, 16 de junho de 2012

Noite Perdida


O fato de Apenas Uma Noite ser dirigido por uma iraniana - a estreante Massy Tadjedin – me deu a ilusão de ver alguma coisa diferente dos modorrentos e repetitivos dramas românticos do cinema americano. Ledo engano. O filme é basicão, previsível, e a única coisa razoável é que todos os seus personagens têm seus defeitos e qualidades, sem maniqueísmos.


Joanna (Keira Knightley, excelente quando interpretou a maluquete de Um Método Perigoso) e Michael (Sam Worthington) envolvem-se, numa mesma noite, em casos extra-conjugais. 

Ao contrário do que possa parecer nos minutos iniciais do filme, não se trata daquela clássica situação do traidor e do traído, e duas histórias paralelas se desenrolam. Mas nada muito original.

O caso entre Michael e Laura (Eva Mendes), além de óbvio, é chatíssimo. Não sei porque, mas Worthington me lembrou muito o Tarcísio Meira de décadas atrás, com aquele rosto congelado e sem expressão, mesmo que o mundo esteja caindo sobre a sua cabeça. Ele até que se sai razoavelmente em filmes de ação, como Avatar ou Fúria de Titãs, mas em Apenas Uma Noite sua atuação foi patética.

Já o outro lado da trama, entre Joanna e Alex, pelo menos tem algum glamour.


Bom, se você não se importa de perder apenas uma noite da sua vida, pode assistir. Mas não vai lhe acrescentar absolutamente nada...




sábado, 9 de junho de 2012

O Jogo Continua


Terminada a segunda temporada de Game of Thrones, vamos a mais uma postagem sobre a série que vem dominando o mundo.

Na primeira temporada, elegi como destaque a rainha-vilã Cersei Lannister, seu irmão-anão  Tyrion Lannister, Daenerys Targaryen e a pequena Arya Stark. Vou me reposicionar.

Tyrion, vivido pelo ator Peter Dinklage (foto) e Arya até que se mantiveram bem. Daenerys, no entanto, foi uma chatice só. Quando ela aparecia, o tempo inteiro suja, com aquela cara de choro, dava vontade de chorar também. Foram nove episódios de tormento. Somente no décimo ela resolveu fazer alguma coisa. Ela não, seus dragõezinhos.



Quanto a Cersei, manteve-se bela como sempre. Descobri que Lena Headey (foto), a atriz que a interpreta, não é loira, mas ainda assim dá um caldo... De qualquer forma, sua personagem perdeu consistência, oscilando entre a maldade e a submissão, principalmente ao filhote-ditador.

Joffrey, aliás, foi uma das gratas surpresas. Sua transformação de menino-mimado-idiota em reizinho-psicopata-sádico foi uma grande sacada e fez muito bem à trama.


A Andrógina Brienne e, principalmente, o estranho Jaqen H'ghar foram as revelações da temporada. Só não entendi uma coisa: Jaqen fazia o diabo, matava todo mundo, desaparecia, mudava de rosto, era praticamente o Jáspion!!! Mas precisou de uma garotinha para conseguir sair de uma gaiolinha furreca, ficando em dívida com a pequena Stark. Vá entender... 

Bom, mas está todo mundo esperando a terceira temporada, que começa a ser filmada já em julho próximo, e corresponderá apenas à primeira parte do terceiro livro da série Crônicas de Gelo e Fogo. 

Pra quem, como eu, vive se enrolando com o monte de personagens da série, recomendo o link http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_personagens_de_Game_of_Thrones. Sempre que você se perder, volta lá e se localiza.


Bom, mas está todo mundo esperando a terceira temporada, que começa a ser filmada já em julho próximo, e corresponderá apenas à primeira parte do terceiro livro da série Crônicas de Gelo e Fogo. Já tem gente lendo o livro porque não agüenta esperar... 






Carnificina Inglória

A tradução fidedigna de uma peça de teatro, com uma pitada de Polanski. Mesmo  para quem não se preocupa com esses detalhes, isso fica muito claro para quem assiste a Deus da Carnificina.

A história toda se passa entre quatro paredes. Ao contrário do que se possa imaginar, não é um filme monótono, muito graças ao grande elenco. São apenas dois casais, e três atores vencedores do Oscar: Jodie Foster, Kate Winslet e Christoph Waltz, muito bem acompanhados por John C. Reilly. 

Mas o texto da francesa francesa Yasmina Reza e a direção do consagrado (e enrolado) Roman Polanski contribuem para tornar o filme um bom programa de final de semana.

Em um parque de Nova Iorque, duas crianças discutem e uma delas agride a outra com um bastão. Uma tarde, os pais se reúnem para resolver o problema. No início, o clima é cordial, mas os ânimos se acirram e os casais começam a discutir. Na sequência, são os problemas de cada casal que afloram e passam a se alternar com as discussões sobre a educação dos filhos.

A polidez do início dá lugar a agressões de tudo o que é lado, mostrando o lado negro de cada um. Só faltou entrar o próprio Polanski e explicitar suas próprias transgressões, que o levaram à justiça e à prisão.   

O filme alterna comédia e drama, mas seu ponto alto é a interpretação de Jodie Foster e Cristoph Waltz. Aliás, é impossível dissociar a figura do ator austríaco do seu papel em Bastardos Inglórios, onde interpretou o coronel nazista Hans Landa. 

Bom, se você não é daqueles que só vai ao cinema para ver filmes de ação ou comédias românticas, vale ver Deus da Carnificina, mesmo que você gaste alguns neurônios para associar o título à trama...

domingo, 3 de junho de 2012

Marilyn e Shrek


Já me perguntaram se eu não assisto a filmes normais. Claro que sim. Nos últimos dias vi Os Vingadores e O Corvo. Mas desses já se fala muito. Portanto, o comentário de hoje é sobre uma película francesa, A Delicadeza do Amor.

O filme se proõe a abordar a questão de perdas inesperadas, intensas, e da necessidade de recomeçar, de se superar, de seguir adiante. Não deixa de ser isso, também. Mas, com o passar da trama, a história vai migrando para um outro tema, talvez até mais interessante, por ser menos explorado: a barreira estética.

Explico: Audrey Tatou, ou Nathalie, ou ainda Amélie Poulain, magérrima, desengonçada, é tratada como uma musa, pela qual todos se apaixonam. Após ficar viúva, depois de três anos  de isolamento e dedicação total ao trabalho, envolve-se com Markus, um sueco normal, mas que é tratado como um ogro.

Para os padrões franceses, é um romance entre Marilyn e Shrek. Em determinados momentos, parece ser Markus, e não Nathalie, o personagem central, que precisa superar uma perda e se abrir para um novo amor.


O filme é bom, tem um certo refinamento, mas termina de um jeito muito convencional. Alternando entre drama, comédia e romance, por tudo o que a crítica falou (não sei se a gente cria muita expectativa), pela poesia do título, sinceramente, eu esperava mais. 

sábado, 2 de junho de 2012

Qualquer semelhança...


Assim como uma novela, o que sustenta uma série – tirando as comédias – normalmente é a continuada vitória do mal sobre o bem, até que, finalmente, o jogo se inverta no apagar das luzes.

Game of Thrones (O Jogo dos Tronos) é uma interminável batalha entre o bem e o mal, uma série de fantasia baseada na obra As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin.

Quando recebi o download dos primeiros episódios, estava meio cético. Produzida pelo HBO, ambientada na idade média... sei não...

Mas me surpreendi. A trama é complexa, os episódios são tecnicamente muito bem produzidos, e você só precisa ficar atento aos muitos nomes, famílias, conexões e eventos passados, para poder acompanhar direito a história.

Um aspecto um pouco mal resolvido é o surrealismo, que surge, desaparece por longos períodos e de repente retorna meio fora de contexto. Mas aos poucos a coisa vai fazendo sentido.

Outra característica de Game é nos surpreender com a eliminação de alguns dos principais âncoras da trama, que imaginávamos sobreviverem às diversas temporadas. Mas isso acaba dando credibilidade à saga. Resta saber se os novos protagonistas terão capacidade de substituir à altura personagens de peso como Ned Stark e Khal Drogo.

Destaque ainda para a belíssima rainha-vilã Cersei Lannister, seu irmão-anão, o divertido e espirituoso Tyrion, Daenerys Targaryen (foto), esposa de Drogo, e a pequena Arya Stark.

Se você é daqueles que, como eu, acha um saco essas coisas de castelo, era medieval, duelos  de espada, respire fundo e dê um crédito de confiança a Game of Thrones. Aposto que, no máximo, até o segundo episódio, você estará decidido a acompanhar a série inteira.

Um olhar mais aguçado e você ainda irá identificar alguma analogia com o mundo corporativo atual ...