sábado, 26 de maio de 2012

Cara de Ocidente


Mais um chinês invade as telonas brasileiras. Até vale a pena ver Flores do Oriente, mas o diretor parece se perder um pouco ao privilegiar a estética em detrimento do roteiro, ao não se decidir entre uma história de guerra ou um drama, ao exagerar nos estereótipos.

No início, tudo leva a crer que veremos uma super-produção, mas, com o desenrolar da trama, o filme vai perdendo fôlego, e os personagens, consistência.

Sempre que um filme se baseia num fato histórico, gosto de contextualizá-lo. No chamado Massacre de Nanquim, milhares de mulheres foram torturadas, estupradas e mortas pelas tropas imperiais japonesas que invadiram a então capital da China em dezembro de 1937.

Pequim e Nanquim, duas imensas metrópoles com cerca de dez milhões de habitantes, uma ao norte e outra ao sul do país, têm se alternado como capital ao longo do tempo. Em 1949, durante a guerra civil chinesa, Mao estabeleceu a República Popular da China e retornou a capital para Pequim, o que perdura até os dias de hoje.

Voltando ao filme, o que considero seu maior pecado é a falta de consistência dos personagens, cuja redenção ocorre de uma hora para outra. É o caso da transformação do falso padre John Miller (personagem do excelente ator galês Christian Bale, que aqui não foi tão bem) e das prostitutas. Os clichês também se fazem presentes a todo instante, “ocidentalizando” demais o filme.

Impressiona também o refinamento e a elegância das prostitutas, impecáveis em meio a uma cidade destruída e coberta de fumaça.

História de beberrão mau-caráter que fica bonzinho e salva todo mundo e de puta boazinha que conta sua infância difícil e também se redime virando heroína, não dá mais pra engolir...

domingo, 13 de maio de 2012

Outono Indiano


Pra variar, a crítica em geral meteu o pau num filme que eu adorei. O Exótico Hotel Marigold, em cartaz em Brasília, é uma produção britânica, do mesmo diretor de Shakespeare Apaixonado, e conta a história de um grupo de ingleses que viaja à Índia para se hospedar num hotel para idosos, o Marigold (que é uma flor, mas possivelmente também um trocadilho para a rede internacional Marriott). 

Ao chegar, os velhinhos percebem que entraram numa roubada, mas o dono do hotel – o simpático protagonista do grande sucesso Quem Quer Ser Um Milionário – os convence a ficar.

A comédia envolve, cativa e chega até a emocionar em determinados momentos. Apesar do roteiro relativamente raso e previsível, pra quem está chegando perto da velhice há alguns convites à reflexão, em aspectos como tolerância, mudança, aceitação e recomeço.

O filme conta com um elenco de peso, com destaque para a vencedora do Oscar Judi Dench. Outro ponto alto da película é a exploração dos contrastes das metrópoles indianas, com suas cores, seus táxis bizarros, suas mazelas sociais.

Jaipur, onde fica o Marigold, é um caos, um retrato da própria Índia, a terra dos call centers, um país com mais de um bilhão de habitantes. As projeções indicam que em trinta anos haverá mais indianos que chineses no mundo, dado seu crescimento populacional desordenado.

Hotel Marigold não é tão exótico quanto eu esperava, mas ainda assim é um bom programa. 

domingo, 6 de maio de 2012

Simplesmente Amor


Não vá ver As Neves do Kilimanjaro esperando encontrar neve, montanha ou paisagens africanas (o Kilimanjaro é o ponto mais alto do continente, na fronteira da Tanzânia com o Quênia).  

Na realidade, tudo isso pode ser visto na película homônima, americana, de 1952, com Gregory Peck no papel principal. E pode ser encontrado em DVD, nas locadoras. O que está em cartaz nos cinemas de Brasília, no entanto, é uma produção francesa, de 2011, do diretor Robert Guédiguian.

O filme de 1952 é inspirado em um conto de Ernest Hemingway. O de 2011 também se baseia num escritor famoso. Dessa vez, a origem é o poema “Os Pobres”, de Victor Hugo, que seria um título bem mais adequado, é bom que se diga.

Nela, o que vemos é crise econômica, violência urbana, sindicalismo, dramas pessoais. Mas o tema central do filme é simplesmente... o amor.

O amor de um casal; o amor fraternal; o amor ao próximo.

Emociona.

Enlatado Requentado


Há alguns dias, um amigo gravou vários episódios de Alcatraz no meu pen-drive. A primeira coisa que me veio à cabeça foi que eu teria que assisti-los no meu notebook.

Chegando em casa, lembrei que minha TV – que já tem alguns anos de uso – tinha entrada USB. Pronto. Foi só plugar e aproveitar. Simples e rápido.

Conforme já se cansou de dizer na internet, desde o início é inevitável a associação com Lost, uma das séries de maior sucesso da TV mundial. A nova série é do criador de Lost, tem um dos atores de Lost (Jorge Garcia, ou o gordinho Dr. Soto), tem uma ilha, tem lances sobrenaturais, etc. Mas isso não é novidade. Os produtores adoram pegar carona em sucessos passados. Quem não identifica, de primeira, as semelhanças de How I met your Mother com Friends?

A trama de Alcatraz é interessante, mas já no segundo episódio tem-se a sensação de que, já já, vai faltar fôlego para segurar a série. O roteiro tem muitos furos, e às vezes parece coisa de amador.

Em Alcatraz, o sobrenatural não está só nos vilões, que reaparecem cinqüenta anos depois de sumir da ilha, sem sinais de envelhecimento. A rapidez com que a bela investigadora Rebecca (Sarah Jones) localiza os meliantes é de espantar. Em determinada situação ela identifica o prédio em que o vilão está, a partir da visão de sua cela, na ilha, a quilômetros de distância de San Francisco, uma metrópole com quase um milhão de habitantes. Em outra passagem, após algumas pessoas terem sido atingidas num parque de diversões, ninguém sabe de onde vieram os disparos, mas a competente Rebecca se dirige a um morro, a mais de quinhentos metros do local, vasculha o terreno e acha de imediato, entre os arbustos, o cartucho utilizado pelo serial killer. Haja faro!  

Outra coisa que carece de explicação é o fato de que os bandidos (são centenas) ressurgem um de cada vez. Mas isso, claro, é pra manter o ritmo dos episódios. Só falta o Clint Eastwood (ator principal do filme Alcatraz – Fuga Impossível) dar as caras…

Não gosto muito de filme americano, mas aprendi com meu filho a curtir sitcoms. Alcatraz não é comédia, mas espero que, como Friends, The Big Bang Theory ou Two and a Half Men,  vá melhorando nas próximas temporadas.

Como diversão, vale à pena, desde que você não seja muito exigente. 

sábado, 5 de maio de 2012

Norte x Sul

Baseado em fatos reais, Conspiração Americana aborda o assassinato do presidente Abraham Lincoln pouco dias depois de terminada a guerra de secessão, em meados do século XIX. O crime é perpetrado por um ator, dentro do teatro Ford, em Washington, durante uma peça.

Um pouco de história: por volta de 1860 o sul dos EUA era essencialmente latifundiário e escravocrata; o norte, industrial e abolicionista. Lincoln, presidente eleito pelos republicanos, estava pouco se lixando pra tudo isso, mas resolveu levantar a bandeira do seu partido e dos nortistas. Os sulistas se revoltaram e resolveram se separar, fundando os Estados Confederados. A partir daí, o pau comeu e os separatistas acabaram derrotados.
   
Voltando ao filme. Sempre assisto a produções americanas com certa reserva, pois geralmente são enlatados, muito bem feitos sob o aspecto técnico, mas sempre previsíveis. Ainda mais se o diretor for um ex-ator, como Robert Redford.

A receita de bolo está presente desde a cena de guerra do início, no longo julgamento da supostamente inocente dona da pensão na qual se hospedaram os assassinos, no advogado bonzinho - herói nortista que defende a ré sulista -, na sua namorada alienada, no político insensível,  etc,  etc.

Mas o filme agrada, prende a atenção e não é cansativo. Aos menos atentos, sugiro observar a sutil – ou nem tanto – associação dos fatos da época com a política de caça às bruxas implementada nos Estados Unidos há pouco mais de dez anos, logo após os atentados de 11 setembro, quando os direitos civis foram pra cucuia, em nome da segurança nacional.