domingo, 21 de outubro de 2012

Morrendo Junto


E se Vivêssemos Todos Juntos? poderia ser um filmaço. Mas ficou no mais ou menos.  Depois de um início promissor, parece ter acabado o fôlego do diretor, do orçamento... ou quem sabe do elenco septuagenário.

Em determinado momento, traições do passado vêm à tona e parece que a coisa vai deslanchar. Mas não. O fato é que, ao entrarem os créditos, a impressão é de que faltou algo. É apenas uma hora e meia de duração, e fica uma certa sensação de quero mais....

Mesmo assim, vale a pena: pelo tema (que de alguma forma nos remete à recente comédia britânica O Exótico Hotel Marigold), pelo elenco, pela direção segura.

Como na vida real, não há aquele estereótipo de “felizes para sempre” em nenhum dos casais, e sim a firme intenção de cuidar um do outro enquanto a vida se esvai.

Observando as velhinhas do elenco no papel de Annie e Jeanne, é difícil imaginar que Geraldine “Charles” Chaplin é quase uma década mais jovem que Jane Fonda.  

De qualquer maneira, sempre há algo a refletir em produções que exploram a devastadora e inexorável passagem do tempo e a chegada da velhice, especialmente quando ela já começa a flertar com o expectador...

Um título possível seria “E se Morrêssemos Todos Juntos”...

sábado, 20 de outubro de 2012

Woody na França

A cinéfila cearense Cirleide Mara estreia no FilmeCapital. Confira!!



Depois de décadas de filmes ambientados em sua amada cidade natal -  New York - eis que Woody Allen arrumou as malas e partiu pra Europa. Primeiro foi Londres, retratada nos ótimos e sombrios Mach Point(2005) e O Sonho de Cassandra (2007), e no chato Scoopn(2006), mas ele pode dar uma deslizada de vez em quando. Depois na Espanha, com o divertido e sensual Vicky, Cristina, Barcelona (2008), uma mostra das relações humanas e tórridas paixões.


E eis que chega a vez da França. Meia-Noite em Paris é o mais brilhante trabalho do cineasta, e um dos melhores filme de todos os tempos! A começar bela belíssima abertura, mostrando os mais belos e conhecidos locais da cidade - ao som da trilha sonora composta pelo francês Stephane Wrembede - que trazem nostálgicas lembranças para aqueles que conhecem e adoram a magia de Paris, com ou sem chuva... De cara, já dá pra imaginar  o que vem pela frente.

Somos apresentados a Gil Pender (Owen Wilson, mais conhecido por papéis cômicos), um insípido roteirista de Hollywood, insatisfeito com os rumos que sua vida tomou, e que se apaixona pela cidade logo que chega, ao lado de sua noiva, a fútil Inez (Rachel McAdams) e de seus pais igualmente insuportáveis. Enquanto o casal passeia pelos pontos turísticos da cidade, surge um antigo amigo de Inez, o pedante e metido a intelectual Paul (Michael Sheen), acompanhado de sua namorada. Podemos então constatar o desgaste da relação do casal Pender. 

Irritado com o pedantismo de Paul e a indiferença de Inez, e embriagado pela beleza da cidade, Gil decide passear sozinho, à noite, pelas ruas de Paris, e aí o filme mostra a que veio, permitindo a Woody Allen abusar de sua criatividade e genialidade ao nos apresentar seu premiado e espetacular roteiro original, ganhador do Oscar 2012, que ele nem se deu o trabalho de receber.

Como não na maioria de seus filmes, Allen utiliza o surrealismo para levar Gil de volta à Paris dos anos 20, década que ele considera a melhor de todas para se viver, na qual passa a viver a maior e mais inacreditável experiência de sua existência, ao se encontrar com grandes artistas e intelectuais da época: boêmios, escritores, pintores, bons vivants que viviam na capital francesa, como Cole Porter, Ernest Hemingway, Scott e Zelda Fitzgerald, Pablo Picasso e tantos outros, muitos retratados de forma sutil, quer seja em uma grande obra (Picasso Baigneusse), numa canção (Let’s do It) ou simplesmente num acontecimento, como a atentativa de Zelda em se afogar no Sena, revelando seu comportamento neurótico (a esposa de Scott foi internada por esquizofrenia em 1930).

Inspirado pela nostalgia da época, Gil decide terminar seu livro, voltando a sentir o prazer de escrever. O roteiro é bem amarrado entre as noites de Gil junto aos seus novos amigos e os  dias de insatisfação e infeliz realidade. 

Gil conhece a bela Adriana, amante de Pablo, que já havia  tido um relacionamento com Modigliani. A paixão não concretizada transporta ambos aos anos 1890, La Belle Epoque, que Adriana considera a melhor época de viver. Ao se encontrarem com os pintores Toulouse-Lautrec e Paul Gaugin, o casal imagina que melhor seria ter vivido na Renascença...
O filme é uma bela reflexão sobre como as pessoas nunca estão satisfeitas com suas vidas ou se sentem deslocadas com o tempo em que vivem. Gil passa a aceitar que o presente é o que importa, é isso o que temos e é aí onde devemos ser, estar e lidar com nossas limitações e frustrações.

Frase que o chato Paul diz a certo momento, e que traduz com perfeição a mensagem do filme: “Nostalgia é negação – negação do doloroso presente - uma noção equivocada de que uma época, uma era dourada, é melhor do que aquela em que se vive; uma falha na imaginação romântica das pessoas que acham difícil ocupar-se do presente”.

Maravilhoso e emocionante, um filme que nos deixa à beira das lágrimas durante a sessão inteira, de tão belos os diálogos, a trilha sonora, as ruas de Paris.

Enfim, um filme eterno, para ver e rever mil vezes.




sábado, 13 de outubro de 2012

Laços do Tempo


Looper – Assassinos do Futuro entrega o que promete. Um thriller com muita ação e um roteiro criativo, relativamente verossímil e fácil de acompanhar. Bom, eu, pelo menos, achei, mas pelo que vi em algumas resenhas, teve gente que “viajou”.

Mas bem que o roteirista poderia descomplicar um pouquinho. É que, na história, o futuro está 30 anos à frente do presente, que no caso se passa em 2044, ou seja, pouco mais de 30 anos adiante dos dias atuais. Teve gente que achou que o presente era o futuro, mas na verdade era o passado. Entendeu? Não? Deixa pra lá...  

Como deu pra perceber, o assunto é a mais que manjada máquina do tempo. Em 2074, viajar para o passado é uma contravenção. E os criminosos têm um problema adicional: se  matar alguém, não há como esconder o corpo. Por isso, quando quer “apagar” um desafeto, a bandidagem arma um esquema para mandar o cara ao passado para que seus empregados façam o serviço. O loop (laço), no caso, se fecha quando os criminosos do presente chegam ao futuro, momento em que ocorre uma queima de arquivo.

E é por conta disso que, previsivelmente, as duas gerações do herói Joe (Gordon-Levitt ou Bruce Willis) ficam frente à frente. Mais previsível ainda, na cartilha dos enlatados americanos, é o envolvimento dos protagonistas com uma bela mulher, o que direciona boa parte de suas atitudes.  

Seja qual for o filme, Bruce Willys interpreta o mesmo personagem: o Duro de Matar 171, que sai matando todo mundo. Deve constar do contrato: tenho que ter uma cena em que saio atirando feito um louco em qualquer um que aparecer na minha frente...

Em determinados momentos também há um dejavú de outro filme de Willis, O Sexto Sentido, pois surge um menininho meio encapetado...

Tudo bem, é aquela coisa americanalhada, plastificada, que estamos acostumados a ver. Mas pra quem gosta de uma história movimentada, com muita ação, é um bom programa.



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Vampiro Capitalista


Fui ver Cosmopolis com grandes expectativas. Parecia ser o tipo de filme que me agrada: a crítica adorou e a história parecia interessante. Um cara “estribado”, vagando pela cidade em sua limusine e vivendo várias situações insólitas, desde um encontro casual com sua própria esposa até um inusitado exame de próstata.  

Eric Packer (protagonizado pelo enjoado vampiro crepuscular Robert Pattinson), um experimentado especulador apesar dos seus 28 anos, perde bilhões num único dia ao apostar contra o Yuan, a moeda chinesa, mas permanece impassível – a la Tarcísio Meira – no interior do seu imenso veículo, gastando um dia inteiro apenas para atravessar uns poucos quarteirões e cortar o cabelo, enquanto do lado de fora o pau come nas ruas de Nova Iorque.

O livro homônimo, que deu origem ao filme remete a algumas idéias do manifesto de Marx, e se propõe a fazer uma crítica ao capitalismo, um trololó que ninguém mais agüenta, apesar da abordagem diferente.

As viagens filosóficas permeiam todo o filme, mas atingem seu ápice no interminável diálogo entre Packer e seu provável assassino.

Juliette Binoche está nos créditos, mas quase passa despercebida e aparece em cena somente por um dois minutos, tempo suficiente para dar umazinha com o vampiro financeiro.

Mais uma produção pseudo-cult na longa filmografia do diretor canadense David Cronenberg. Se você quer um programa para descontrair, fuja de Cosmopolis, que suga mesmo é a energia do espectador. 

É muito baixo astral. E chato também.