sábado, 28 de dezembro de 2013

Do Ceará para o Mundo

Aula de artes marciais a caminho de Pacatuba 
Muita gente generaliza o nordeste como uma coisa só. Mas quem é de lá sabe que o Ceará é tão diferente de Pernambuco como do Rio Grande do Sul.

Nem melhor nem pior. Apenas diferente. Recife, por exemplo, tem um certo refinamento,  herança da colonização européia.  Fortaleza é uma metrópole que cresceu predominantemente do êxodo rural, do povo sofrido que fugia do flagelo da seca. E essa característica deu ao cearense um jogo de cintura que está relacionado à sua condição de grande celeiro de humoristas do Brasil.
Elenco de Cine Holliúdy (Foto: Divulgação)

Estatisticamente, cerca de 100% do cearense se considera humorista.
 
Cine Holliúdy traz o que o humor do Ceará tem de mais autêntico, escrachado, pesado, pouco elaborado e carregado com o “dialeto cearensês”, que levou o roteirista e diretor Halder Gomes a um pioneirismo: seu filme é a primeira produção nacional a ter legendas em português, uma inovação que poderia ter sido melhor explorada caso não reproduzisse ipsis litteris os diálogos, optando por traduzir algumas expressões pouco familiares às demais regiões do Brasil.
 
A associação de Cine Holliúdy com Cinema Paradiso é imediata. Obviamente, o cult de Giuseppe Tornatore, da década de 80, é um filme bem mais rebuscado que a produção tupiniquim.
Edmilson Filho e Miriam Freeland 

No interior do Ceará (ou quase, já que Pacatuba fica pertinho da capital) Francisgleydisson e família resolvem fazer uma última tentativa de manter acesa a chama do cinema frente à investida da televisão, no início da década de 70. Ou seja, nada muito original.

No entanto, Cine Holliúdy fez um sucesso estrondoso no seu estado natal - assim como foi bem recebido no exterior - embora não tenha repetido a mesma performance no restante do Brasil. O filme ganhou dezenas de prêmios em festivais pelo mundo afora. Até a Globo exibiu recentemente a comédia . Tudo bem... Foi de madrugada, longe do horário nobre... Mas exibiu. 

Filme de orçamento curtíssimo, Cine Holliúdy se pagou apenas com a bilheteria de Fortaleza. A trilha sonora é uma verdadeira viagem no tempo, exaltando o brega que dominava a região numa época anterior à invasão das gigantescas bandas de forró que tomaram conta do mercado. Márcio Greick, além de emprestar suas baladas à trama, faz uma ponta como ator, interpretando o golpista que compra – e não paga – Wanderléia, a Veraneio amarela de Francisgleydisson.
A plateia de Francisgleydisson

Se Halder Gomes foi habilidoso em abordar com leveza temas como a ditadura, a corrupção e a pobreza, quando o assunto foi futebol, a paixão falou mais alto e ele não transigiu em dar tratamento igual a Fortaleza – seu time de coração – e Ceará. Um casal acompanha o clássico cearense pelo rádio durante a inauguração do cinema de Francisgleydisson. A mulher usa uma camisa do tricolor; o homem, do arqui-rival, mas a camisa alvinegra não tem escudo.
 
Apesar da ótima atuação de Edmilson Filho como Francisgleydisson, o grande tempero do filme são os personagens “periféricos”, menos estereotipados e mais soltos, com destaque para o cego Isaías, vivido pelo cantor/humorista/arquiteto Falcão.
 
Peense num filme paidégua, macho! E não venha com essa baitolagem de dizer que ele é peba! Afinal, o orçamento foi bem acochado. E não seja abestado de comparar Cine Holliúdy com essas fuleragens americanas metidas a espilicute. Esses baitingas são tudo estribado, adoram botar boneco e podem ficar aperreados e querer dar um mói de pêia em você... (*)
 
Se você entendeu direitinho esse último bloco, pode assistir a Cine Holliúdy sem legenda... Caso contrário, leia a tradução para o português, abaixo.
 
Que filme maravilhoso, meu amigo! Não devemos criticá-lo, inclusive porque seu baixo orçamento não pode ser comparado às caríssimas produções norte-americanas de baixa qualidade, disfarçadas de super-produções. Os ianques são orgulhosos, têm muito dinheiro, gostam de ostentar e podem ficar nervosos a ponto de querer  agredi-lo.


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